Essa é a história de um garçom que sonhava ser ladrão, mas não tinha talento para nada, era mesmo um azarão... Vou deixando a rima de lado e lhes apresentar um herói às avessas, Lúcio Denada. Seu nome é de fato um “prelúdio”, uma revelação. Lúcio não era de nada, não possuía nada. Não tinha uma única boa lembrança. Dos tempos de infância, o que ficou na memória era sua mãe saindo à noite para o trabalho e voltando pela manhã. Deixando o pequeno Lúcio solitário. Filho único de mãe solteira, nunca soube do pai ou de outro membro da família. Quando Lúcio completou 16 anos, sua mãe sumiu, dizem que fugiu com um motoqueiro misterioso, abandonando o menino sozinho, desta vez pra sempre. Largado à própria sorte, o menino foi crescendo. Nessa época ele trabalhava em uma padaria como ajudante de padeiro. Acordava bem cedo para misturar a farinha e não ficava pensando na vida. Apenas sobrevivia sem chorar. Morava num barraco bem pequeno na subida do morro da Glória, no Rio de Janeiro. Não era de muita conversa. Não chorava, não ria, não brigava, não reagia. Assim era a vida de Lúcio Denada. Vivia do trabalho para casa e da casa para o trabalho. Sua vida era tão sem graça, parada mesmo, que não faria sentido contar sua historia se não fosse por um fato pitoresco, um segredo que ele guardava consigo: Lúcio sonhava ser ladrão. Perdia o tempo de folga imaginando como seria sua vida de aventuras, de assaltante perigoso, bandido procurado. A cidade tremeria só de ouvir falar seu nome na TV. Doce sonho. Seria triste se não fosse tosco.
Quando ainda trabalhava na padaria, arquitetou um assalto que, para ele, seria o primeiro de muitos. Seu patrão, um espanhol com cara de pedófilo, sempre abria a padaria para os funcionários às 4:30 da madrugada. Era uma vítima perfeita. Escolheu o dia em que ele era o encarregado de chegar mais cedo e se lançou na aventura. Às 4:00h, lá estava ele. Escondeu-se na penumbra e aguardou friamente. Quando Seu Manolo, o dono da padaria, desceu do carro ele anunciou o assalto. A vítima se jogou no chão, foi o que ele pensou. Chegou mais perto e viu que o velho estava se debatendo com a mão no peito. Nessa hora, apareceu Seu Zé, o padeiro, sem saber o que tinha acontecido, tratou logo de socorrer seu patrão que estava tendo um enfarte. O garoto se desesperou e saiu correndo. Sumiu. Nunca mais apareceu na padaria. Ficou sabendo depois que sua primeira vítima havia morrido de enfarte fulminante. Nosso herói sentiu um pouco de remorso, mas sabia que não tinha culpa. O tal do Seu Manolo só comia porcaria e fumava três maços de Hollywood por dia, só podia acabar como acabou.
Lúcio procurou um novo emprego. Conseguiu seu primeiro trabalho de garçom em um bar pé de chinelo que abria as 14:00h e fechava as 2:00h. Trabalhou o primeiro mês sem muito problema, mas logo ganhou o apelido de merdinha. Não gostava nem um pouco do novo nome, mas o patrão, um português com cara de pedófilo, só chamava ele de Seu Merdinha. Não era sem motivo, todo dia ele fazia uma merdinha, quebrava copos, pratos, derrubava garrafa, dava troco errado, não cobrava direito. O portuga só não o mandava embora por que gostava do garoto. Mas sempre ameaçava:
- Oh! Merdinha, se tu quebrar mais alguma coisa vou descontar do teu pagamento.
Ele fazia tanta merdinha que até os clientes mais chegados já chamavam ele pelo apelido. Era Merdinha pra cá, Merdinha pra lá. Isso foi deixando ele irritado. A vida não podia ser pior. Foi então que ele voltou a ter vontade de realizar seu sonho esquisito. Essa vontade crescia a cada dia dentro do pacato Lúcio Denada.
Uma bela noite chuvosa, ele estava descansando as pernas, pensando como faria seu próximo roubo, fumando um cigarro no corredor que fica nos fundos do bar, onde fica a lixeira da casa. De repente, uma sirene de camburão corta o barulho da noite. Bem na esquina uns pipocos de tiros e gritos. Lúcio ficou atento, meio com medo, meio curioso. Eis que do escuro do beco aparece um homem cambaleando, estava visivelmente ferido. O sujeito caiu no chão e uma pistola prateada escorreu na direção de Lúcio que ficou parado sem reação. O ferido ainda deu uma boa olhada nos olhos do garoto, como se fosse dizer alguma coisa e morreu sem dizer nada. Lúcio pensou um pouco e antes que a polícia aparecesse pegou a arma e entrou pela porta dos fundos. Foi até sua mochila que ficava perto das caixas de cerveja e guardou o presente que acabara de ganhar. Por um instante pensou em se livrar da arma do criminoso morto, mas logo sentiu que aquela era sua grande chance. Tratou de se recompor do susto e quando a polícia começou a fazer perguntas se fez de burro e passou batido. Continuou trabalhando, mas seus pensamentos estavam dentro de sua mochila. Tanto sonhava que fez mais merdinhas que de costume. O portuga nem percebeu, estava mais preocupado com o defunto nos fundos do bar e com o entrar e sair de policiais mal encarados. Até resolveu fechar as portas mais cedo. Lúcio, aproveitando a distração do chefe, ainda roubou uma garrafa de cachaça para comemorar. Trocou de roupa, pegou sua mochila com a arma e com a cachaça, e tratou de sair fora. A chuva só aumentava, as ruas estavam como rios. Era o Rio de Janeiro mostrando suas garras. Ele se refugiou numa marquise longe da cena do crime e bebeu até apagar ali mesmo.
Acordou em casa, sem saber como tinha andando até lá. Percebeu que não estava só. Havia outro corpo na cama juntinho ao dele. Tomou um susto quando, ao virar a cabeça, sentiu sua boca encostar em outra boca. Abriu os olhos com dificuldade por conta da ressaca e viu que em sua cama estava o Paulistinha, uma bichinha magrinha que morava no barraco ao lado. Levantou de um salto só e furioso foi pondo a bicha pra fora do barraco. A bichinha ainda tentou explicar que o encontrou na rua caído e o trouxe para casa, mas que não havia acontecido nada entre eles. Lúcio nem quis ouvir e botou a bicha pra fora aos tapas, batendo a porta em seguida.
Sozinho no quarto, lembrou-se da arma e correu para ver se ainda estava na mochila. Para seu alívio e tensão estava lá. Era uma linda pistola prateada com o cartucho de bala vazio. Colocou a máquina sobre a mesa e ficou pensando, planejando seu primeiro roubo a mão armada. O relógio da parede marcava 17:00h. Estava muito atrasado para o trabalho e decidiu não ir trabalhar naquele dia. “Chutou o balde”. “Merdinha é o caralho!” Pensou ele em voz alta. Tomou um banho, comeu um pão dormido, tomou um café requentado, colocou a pistola na mochila e saiu de casa decidido. Caminhou da Glória até Copacabana. No trajeto elaborou o esquema. Escolheu uma rua deserta, sentou na porta de uma loja fechada e esperou escurecer. Sentiu um pouco de medo, de adrenalina, mas estava certo do que queria. Não demorou muito, avistou do outro lado da rua, uma senhora indefesa. Era uma vítima fácil, seria como roubar doce de criança. Tirou a arma da mochila e colocou na cintura, sentiu o frio do aço que gelou seu corpo todo. Começou a seguir a velha como um lobo segue sua caça, implacável. Quando se sentiu seguro, foi se aproximando. A rua era uma descida, não havia ninguém olhando e estava longe da outra esquina. Era o momento de atacar. Apertou o passo com decisão. Quando chegou perto e ia anunciar o assalto, a grande fala do ladrão, tropeçou numa pedra e se estatelou de cara no chão, virando as pernas por cima da cabeça. Uma queda cinematográfica. No susto, a velhinha olhou para o rapaz e ainda pode ver o tombo. Um verdadeiro caixote de asfalto.
- Meu filho, você está bem? Cuidado. Você tem de olhar por onde anda.
Ele respondeu que estava bem, apesar das dores no corpo e do corte na testa. Ela foi embora e ele ficou sentado no meio fio, sem saber se ria ou se chorava. Na dúvida só gemeu baixinho. Depois do fiasco resolveu ir para casa esfriar a cabeça. Andou de volta por quase uma hora, com uma dor fina e um arranhão ardente na testa. Chegou à Glória e começou a subir a rua que dá acesso ao morro. De longe, no escuro, na calçada, viu um par de pernas femininas. Por conta do muro, só via mesmo as pernas. Seu coração acelerou e ele resolveu fazer uma investida na mocinha indefesa da rua deserta. Sacou sua arma e foi beirando o muro acreditando no fator surpresa e no susto que dificultaria a reação. Chegou perto e anunciou com voz grave:
- É um assalto. Passa tudo e não tente nenhuma besteira ou vai levar bala...
Antes que pudesse terminar a frase sentiu um choque na cara, do soco que lhe arremessou quase no meio da rua, com as pernas por cima da cabeça, no meio de um monte de sacos de lixo. Antes de desmaiar, com um olho aberto e o outro roxo, viu que a mocinha, era mesmo uma “mossinha” enorme, um armário vestido de mulher. Para terminar o serviço ainda lhe deu um chute de artilheiro na costela e roubou a arma de sua mão. Nosso azarão apagou de tanta dor que sentiu. Quando acordou estava em casa e o Paulistinha, que novamente o tinha socorrido, estava cuidando dos ferimentos. Ele nem teve força para dizer nada. Talvez tenha dito mamãe e desmaiou novamente. A bichinha fez os curativos e deixou o coitado dormindo em sua cama. No dia seguinte, foi acordado com batidas na porta. Era o Paulistinha que vinha ver como estava seu paciente.
- Vim ver como você está. Queria aproveitar e pedir um pouco de açúcar. Estou fazendo um bolo de laranja e fiquei sem açúcar. Voce me empresta um pouco do seu açúcar?
- Entra viado.
- Não precisa. Eu espero aqui fora, não quero incomodar.
- Entra viado.
A Bichinha entrou, toda educada. Ele fechou a porta. Chegou bem perto da bichinha, acochando ela por trás e falou com voz de macho:
- Tá pensando que aqui em casa é armazém... Vai levar açúcar, mas vai levar leite também.
Disse essas palavras românticas e agarrou a bichinha paulista que não esboçou nenhuma reação a não ser um sorriso safado se entregando a seu amado. Fizeram amor à tarde inteira como dois amantes selvagens e livres. Hoje, passados dez anos, os dois ainda vivem juntos, num barraco um pouco maior. Paulistinha arrumou um emprego para Lúcio de garçom em bife de festa. Até onde eu sei estão muito felizes. Se pudessem até teriam filhos. Ele esqueceu, pelo menos por um tempo, o sonho de ser criminoso.
Como eu sei dessa história toda? Adivinha!
Quando ainda trabalhava na padaria, arquitetou um assalto que, para ele, seria o primeiro de muitos. Seu patrão, um espanhol com cara de pedófilo, sempre abria a padaria para os funcionários às 4:30 da madrugada. Era uma vítima perfeita. Escolheu o dia em que ele era o encarregado de chegar mais cedo e se lançou na aventura. Às 4:00h, lá estava ele. Escondeu-se na penumbra e aguardou friamente. Quando Seu Manolo, o dono da padaria, desceu do carro ele anunciou o assalto. A vítima se jogou no chão, foi o que ele pensou. Chegou mais perto e viu que o velho estava se debatendo com a mão no peito. Nessa hora, apareceu Seu Zé, o padeiro, sem saber o que tinha acontecido, tratou logo de socorrer seu patrão que estava tendo um enfarte. O garoto se desesperou e saiu correndo. Sumiu. Nunca mais apareceu na padaria. Ficou sabendo depois que sua primeira vítima havia morrido de enfarte fulminante. Nosso herói sentiu um pouco de remorso, mas sabia que não tinha culpa. O tal do Seu Manolo só comia porcaria e fumava três maços de Hollywood por dia, só podia acabar como acabou.
Lúcio procurou um novo emprego. Conseguiu seu primeiro trabalho de garçom em um bar pé de chinelo que abria as 14:00h e fechava as 2:00h. Trabalhou o primeiro mês sem muito problema, mas logo ganhou o apelido de merdinha. Não gostava nem um pouco do novo nome, mas o patrão, um português com cara de pedófilo, só chamava ele de Seu Merdinha. Não era sem motivo, todo dia ele fazia uma merdinha, quebrava copos, pratos, derrubava garrafa, dava troco errado, não cobrava direito. O portuga só não o mandava embora por que gostava do garoto. Mas sempre ameaçava:
- Oh! Merdinha, se tu quebrar mais alguma coisa vou descontar do teu pagamento.
Ele fazia tanta merdinha que até os clientes mais chegados já chamavam ele pelo apelido. Era Merdinha pra cá, Merdinha pra lá. Isso foi deixando ele irritado. A vida não podia ser pior. Foi então que ele voltou a ter vontade de realizar seu sonho esquisito. Essa vontade crescia a cada dia dentro do pacato Lúcio Denada.
Uma bela noite chuvosa, ele estava descansando as pernas, pensando como faria seu próximo roubo, fumando um cigarro no corredor que fica nos fundos do bar, onde fica a lixeira da casa. De repente, uma sirene de camburão corta o barulho da noite. Bem na esquina uns pipocos de tiros e gritos. Lúcio ficou atento, meio com medo, meio curioso. Eis que do escuro do beco aparece um homem cambaleando, estava visivelmente ferido. O sujeito caiu no chão e uma pistola prateada escorreu na direção de Lúcio que ficou parado sem reação. O ferido ainda deu uma boa olhada nos olhos do garoto, como se fosse dizer alguma coisa e morreu sem dizer nada. Lúcio pensou um pouco e antes que a polícia aparecesse pegou a arma e entrou pela porta dos fundos. Foi até sua mochila que ficava perto das caixas de cerveja e guardou o presente que acabara de ganhar. Por um instante pensou em se livrar da arma do criminoso morto, mas logo sentiu que aquela era sua grande chance. Tratou de se recompor do susto e quando a polícia começou a fazer perguntas se fez de burro e passou batido. Continuou trabalhando, mas seus pensamentos estavam dentro de sua mochila. Tanto sonhava que fez mais merdinhas que de costume. O portuga nem percebeu, estava mais preocupado com o defunto nos fundos do bar e com o entrar e sair de policiais mal encarados. Até resolveu fechar as portas mais cedo. Lúcio, aproveitando a distração do chefe, ainda roubou uma garrafa de cachaça para comemorar. Trocou de roupa, pegou sua mochila com a arma e com a cachaça, e tratou de sair fora. A chuva só aumentava, as ruas estavam como rios. Era o Rio de Janeiro mostrando suas garras. Ele se refugiou numa marquise longe da cena do crime e bebeu até apagar ali mesmo.
Acordou em casa, sem saber como tinha andando até lá. Percebeu que não estava só. Havia outro corpo na cama juntinho ao dele. Tomou um susto quando, ao virar a cabeça, sentiu sua boca encostar em outra boca. Abriu os olhos com dificuldade por conta da ressaca e viu que em sua cama estava o Paulistinha, uma bichinha magrinha que morava no barraco ao lado. Levantou de um salto só e furioso foi pondo a bicha pra fora do barraco. A bichinha ainda tentou explicar que o encontrou na rua caído e o trouxe para casa, mas que não havia acontecido nada entre eles. Lúcio nem quis ouvir e botou a bicha pra fora aos tapas, batendo a porta em seguida.
Sozinho no quarto, lembrou-se da arma e correu para ver se ainda estava na mochila. Para seu alívio e tensão estava lá. Era uma linda pistola prateada com o cartucho de bala vazio. Colocou a máquina sobre a mesa e ficou pensando, planejando seu primeiro roubo a mão armada. O relógio da parede marcava 17:00h. Estava muito atrasado para o trabalho e decidiu não ir trabalhar naquele dia. “Chutou o balde”. “Merdinha é o caralho!” Pensou ele em voz alta. Tomou um banho, comeu um pão dormido, tomou um café requentado, colocou a pistola na mochila e saiu de casa decidido. Caminhou da Glória até Copacabana. No trajeto elaborou o esquema. Escolheu uma rua deserta, sentou na porta de uma loja fechada e esperou escurecer. Sentiu um pouco de medo, de adrenalina, mas estava certo do que queria. Não demorou muito, avistou do outro lado da rua, uma senhora indefesa. Era uma vítima fácil, seria como roubar doce de criança. Tirou a arma da mochila e colocou na cintura, sentiu o frio do aço que gelou seu corpo todo. Começou a seguir a velha como um lobo segue sua caça, implacável. Quando se sentiu seguro, foi se aproximando. A rua era uma descida, não havia ninguém olhando e estava longe da outra esquina. Era o momento de atacar. Apertou o passo com decisão. Quando chegou perto e ia anunciar o assalto, a grande fala do ladrão, tropeçou numa pedra e se estatelou de cara no chão, virando as pernas por cima da cabeça. Uma queda cinematográfica. No susto, a velhinha olhou para o rapaz e ainda pode ver o tombo. Um verdadeiro caixote de asfalto.
- Meu filho, você está bem? Cuidado. Você tem de olhar por onde anda.
Ele respondeu que estava bem, apesar das dores no corpo e do corte na testa. Ela foi embora e ele ficou sentado no meio fio, sem saber se ria ou se chorava. Na dúvida só gemeu baixinho. Depois do fiasco resolveu ir para casa esfriar a cabeça. Andou de volta por quase uma hora, com uma dor fina e um arranhão ardente na testa. Chegou à Glória e começou a subir a rua que dá acesso ao morro. De longe, no escuro, na calçada, viu um par de pernas femininas. Por conta do muro, só via mesmo as pernas. Seu coração acelerou e ele resolveu fazer uma investida na mocinha indefesa da rua deserta. Sacou sua arma e foi beirando o muro acreditando no fator surpresa e no susto que dificultaria a reação. Chegou perto e anunciou com voz grave:
- É um assalto. Passa tudo e não tente nenhuma besteira ou vai levar bala...
Antes que pudesse terminar a frase sentiu um choque na cara, do soco que lhe arremessou quase no meio da rua, com as pernas por cima da cabeça, no meio de um monte de sacos de lixo. Antes de desmaiar, com um olho aberto e o outro roxo, viu que a mocinha, era mesmo uma “mossinha” enorme, um armário vestido de mulher. Para terminar o serviço ainda lhe deu um chute de artilheiro na costela e roubou a arma de sua mão. Nosso azarão apagou de tanta dor que sentiu. Quando acordou estava em casa e o Paulistinha, que novamente o tinha socorrido, estava cuidando dos ferimentos. Ele nem teve força para dizer nada. Talvez tenha dito mamãe e desmaiou novamente. A bichinha fez os curativos e deixou o coitado dormindo em sua cama. No dia seguinte, foi acordado com batidas na porta. Era o Paulistinha que vinha ver como estava seu paciente.
- Vim ver como você está. Queria aproveitar e pedir um pouco de açúcar. Estou fazendo um bolo de laranja e fiquei sem açúcar. Voce me empresta um pouco do seu açúcar?
- Entra viado.
- Não precisa. Eu espero aqui fora, não quero incomodar.
- Entra viado.
A Bichinha entrou, toda educada. Ele fechou a porta. Chegou bem perto da bichinha, acochando ela por trás e falou com voz de macho:
- Tá pensando que aqui em casa é armazém... Vai levar açúcar, mas vai levar leite também.
Disse essas palavras românticas e agarrou a bichinha paulista que não esboçou nenhuma reação a não ser um sorriso safado se entregando a seu amado. Fizeram amor à tarde inteira como dois amantes selvagens e livres. Hoje, passados dez anos, os dois ainda vivem juntos, num barraco um pouco maior. Paulistinha arrumou um emprego para Lúcio de garçom em bife de festa. Até onde eu sei estão muito felizes. Se pudessem até teriam filhos. Ele esqueceu, pelo menos por um tempo, o sonho de ser criminoso.
Como eu sei dessa história toda? Adivinha!
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